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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Núcleo de Dança LAB_ARTE/USP se apresenta no último SARAU LAB_ARTE do ano!



Apresentação de conclusão do 2º semestre de 2013 do Núcleo de Dança do LAB_ARTE/FE-USP.

Artistas-criadores: Camila Ferreira, Gustavo Ceregatti, Luciano João de Souza, Mariana Moura, Mariana Pinheiro, Miriã Barbato, Raíssa Lopes, Raylaine Oliveira, Sandra Yoshimura.
 Coordenação: Barbara Muglia Rodrigues


Durante o 2º semestre de 2013, um grupo de pessoas se entregou não somente às atividades do lab_arte de dança, mas a mim. Um grupo de pessoas esteve presente de alma-corpo para “corpocriar” comigo às terças-feiras. Um grupo me disse: “Quem dera se todo dia fosse terça-feira”. Um grupo grato e cheio de graça me encheu de agradecimentos fazendo ruborizar meu rosto e não caber em mim de alegria pelo reconhecimento e descoberta de um trabalho que faz sentido não só para mim, mas para aqueles aos quais me dedico todas as terças-feiras.

Ainda lembro o primeiro encontro, não em nosso templo (sala 130/Auditório Helenis Suano), sequer em nosso cantinho, aliás, cantão (salão nobre da Escola de Aplicação da FEUSP). Retiramos as cadeiras enfileiradas da sala de aula e deixamos nus os nossos pés. Antes de nos apresentarmos, com uma folha de papel em branco e canetinhas coloridas ou ainda uma simples “bic”, aquelas meninas e um menino que ali estavam tiveram uma árdua tarefa: Em livre-expressão, deveriam tentar responder o que é para eles “esse corpo que eu sou e que dança”. Desenhos, poemas e frases nasceram e se expuseram, trazendo a complexidade, a efemeridade, a subjetividade, o imaginário ... daquele grupo que acabara de se formar. Só então, com aquelas obras no centro da roda, nos apresentamos e dissemos como foi que chegamos ali. Alguns reencontros esperados, outros inesperados e tão felizes. Encontros primeiros entre pessoas que querem se experimentar. Corpos idos e vindos dos mais diferentes lugares se encontrando numa rodinha que cada vez ficava menor para o número de pessoas que ali estavam e que ali iam chegando. Alguns poucos corpos dançantes já imergidos em técnicas de dança, outros que já haviam experimentado a dança no próprio Lab-Arte de Dança ou em uma e outra disciplina indisciplinada que cisma em fazer da “experiência-corpo” seu carro-chefe, outros que ainda se dizem nunca terem dançado e que decidiram se aventurar num estágio nada habitual ou em fazer independentes seus estudos, fazer sua formação a partir de suas próprias escolhas, desejos, anseios, sonhos... Pelo menos, às terças feiras.

Agora, me dirijo a vocês, queridos, que ficaram até o final do curso e celebraram encantadoramente a si mesmos como pessoas-artistas e, consequentemente, educadores-artistas, na última segunda-feira, 25 de novembro de 2013.
“Gratidão”, “gracias”... porque é repleta de graça que agradeço por partilharem vocês mesmos comigo e por se abrirem tão delicadamente a cada proposta, por serem os corpos que são e que dançam, sim!, por “abensonharem” meus instantes de educadora-artista ou artista-educadora, por preencherem de sentido cada encontro e me fazerem crer ainda mais numa educação de sensibilidade.

Que possamos corpocriar mais e mais nossas terças-feiras!!


Confraternização de fim de semestre.
(Na foto: Barbara Muglia Rodrigues, Mariana Moura, Mariana Pinheiro, Sandra Yoshimura, Raylaine Oliveira e Gustavo Ceregatti / Não puderam comparecer: Camila Ferreira, Gabriela Bustamante, Luciano João de Souza, Miriã Barbato , Raissa Lopes)





Também quer dançar???
Nunca é tarde para começar...

Aulas particulares de ballet clássico, dança moderna e contemporânea, consciência e expressão corporal!

domingo, 17 de novembro de 2013

Olhar sobre o abismo: Ensaio sobre ensino e maestria.


Por Barbara Muglia-Rodrigues


Mestranda em Cultura, Organização e Educação - FE - USP
Coordena as atividades do Núcleo de Dança do LAB_ARTE / FE-USP


Autor desconhecido (Fonte: google)

Em 2009, no início de minha licenciatura escrevi um texto intitulado “Como paramos de desenhar jiboias que digerem elefantes”, no qual a discussão se fez inspirada pelo célebre “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, e acerca da formação básica conteudista e instrumental que vivemos principalmente nos vinte primeiros anos de nossas vidas, do como ela vai podando nossa criatividade, nos ensinando a pensar padronizadamente e a criar cada vez menos.
Durante a primeira aula da disciplina de Preparação Pedagógica do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE), a qual visa a formação de professores para a docência no ensino superior, algo disparou o desejo pela releitura daquele texto e, ao relê-lo, deparei-me comigo mesma academicamente mais ingênua e imatura, mas com diversas percepções e incômodos que ainda permanecem. Comecei o texto descrevendo uma sala de aula em período letivo: “fartamente recheada” de estudantes sentados, enfileirados e de frente para o professor detentor do conhecimento. Na sequência, apontei alguns questionamentos que mais ouvi de alunos do ensino fundamental II e médio em meus primeiros estágios: “Por quê as aulas são chatas?”, “Por quê eu tenho que aprender isso?”, “No que isso me será útil?”.
Por quê estou aqui reproduzindo um texto escrito por mim anos atrás? Lendo-o hoje, como pós-graduanda em Educação na FEUSP, fiquei abismada ao perceber que essas mesmas questões são repetidas em salas de aula da Educação Infantil à Pós-graduação seja em instituições públicas ou privadas. Abismo, do grego abissos, significa “sem fundo”, foi apropriado pelo latim como abyssos, significando “profundidade”. Fazendo uso dessa metáfora, mergulharei na minha imagem abismada, à beira do abismo, com o vento no rosto, olhando para a sua profundidade e imensidão ao horizonte. Deste lugar, seguirei tecendo este texto de caráter reflexivo e pessoal como quem vai olhando ao redor e contando o que o cutuca.
As aulas da disciplina do PAE começavam sempre logo após o término dos encontros do Núcleo de Dança do Laboratório Experimental de Arte-Educação e Cultura (lab_arte), do qual sou responsável e cujas experiências e revelações recheiam e dão sentido a minha pesquisa de mestrado.
No contexto da Faculdade de Educação da USP, o lab_arte inaugura, espaços de formação viabilizadores de experiências que incitem a sensibilidade a partir da percepção da possibilidade de uma razão que pode também ser sensível, unindo aquilo que nos aparece heterogêneo a uma só existência, buscando a formação da pessoa intrínseca a cada professor em formação inicial.
Sendo lá que se dá e acontece minha mais forte relação com a docência no ensino superior e com a formação inicial de professores em graduação (alunos da pedagogia e de licenciaturas que realizam seus estágios e estudos independentes no laboratório), posso dizer que era impossível me desvincular dessas experiências no decorrer das aulas. Ali, ecos se fizeram e o primeiro, era voz de uma aluna da pedagogia da FEUSP falando de suas experiências em diversos núcleos do lab_arte:

“Participar do lab_arte me faz uma professora mais feliz.
Antes disso, em todas as aulas, eu me imaginava uma professora triste.”

Logo, outro eco começou a se intercalar com aquela voz como quem inicia uma conversa. Era eu mesma questionando:

“O quê aconteceu a essa jovem aprendiz de professora para agora, vivendo coisas dentro do lab_arte, conseguir se vislumbrar uma professora feliz?”
“Quem estamos querendo formar?”
“Quem é o profissional que queremos formar?”
“E a pessoa que queremos formar? Queremos formar pessoas ou profissionais?
Consideramos que cada profissional é também uma pessoa?”
“O que acontece nas universidades?”

            Observando o ensino superior público, vê-se que ele se dá em um espaço acadêmico com foco em pesquisa e rigor epistemológico, enquanto o ensino superior privado – apesar de possuir contextos tão diversos quanto o número de universidades que existem – costuma reproduzir uma lógica educacional instrumental e conteudista voltada fortemente para a prática profissional. No entanto, voltando nosso olhar para os dois tipos de ensino superior, percebemos que ambos estão permeados por uma razão dicotômica que fundamenta o racionalismo científico e compreende a vida e o mundo como polos antagônicos, separando sujeito-objeto, cultura-natureza, corpo-espírito, razão-sensibilidade. Os currículos seguem buscando formar acadêmicos e profissionais e se esquecem de que estão formando pessoas, de que somos aprendizes por toda a vida e que nos formamos a todo instante, no cotidiano daquilo que nos acontece, das nossas experiências.
Em uma das aulas do PAE, ouvi sobre a necessidade da “profissionalização do mestre”. Compreendo que essa colocação dizia respeito à demanda por uma maior preocupação com o preparo e com valorização da profissão de professor/docente no ensino superior, o que por muitas vezes se caracteriza mais como um trabalho extra que se faz para complementar renda. No entanto, a expressão “profissionalização do mestre” me despertou um estranhamento muito grande.
Diz Georges Gusdorf, em "Professores para quê ?" (1987, p.56):

“O professor ensina a todos a mesma coisa: o mestre anuncia a cada um uma verdade particular, e se é digno de seu trabalho, espera de cada um uma resposta particular, uma resposta singular e uma realização".

Se olharmos para o que tem se dado no âmbito do ensino superior, percebemos professores transmitindo seus conhecimentos técnicos e acadêmicos fundamentais para a profissionalização e sucesso de seus alunos. No entanto, lembrei novamente de Gusdorf (p.81):

“O mestre não limita sua influência a conselhos técnicos, a uma orientação epistemológica, não é apenas um guia do aluno através do labirinto de sua própria existência. Graças à ação persuasiva de sua presença, e talvez sem que isso seja expressamente posto em questão, desfaz as contradições íntimas: explica cada um a cada um, apontando os rumos decisivos.”

Vivemos um processo de profissionalização do mestre, o que não faz sentido em sua própria ideia, fazendo com que a noção de mestre esteja cada vez mais se perdendo. Não se aprende a ser mestre ou discípulo, mas se percebe que, de repente, na relação, mestre e discípulo acontecem. Seja de ensino básico ou superior, a sensibilidade do professorado ficou inerte após tantos anos de uma educação que enrijeceu a sua formação transformando-a em um processo de aquisição, acúmulo e utilização de conhecimentos. Sentindo a necessidade de compreender melhor sobre um possível despertar de sensibilidade, retomarei aquele primeiro eco advindo da voz de uma professora ainda em formação inicial. Me parece que o seu virar de seus olhos, o seu abrir de ouvidos, o seu ampliar de tato e fungar de nariz, de certa forma, a faz perceber-se como professora capaz de olhar mais profundamente com todos os seus sentidos os processos de formação de seus alunos, abrindo as portas de seus dias para momentos de maestria, dando sentido a sua existência docente. Esta jovem estava à beira do abismo, entristecida com o que via, com o que aprendia, com a reprodução de métodos e mergulho didático possíveis para quem está com a visão enquadrada nos padrões curriculares a ela apresentados. E, de repente, ela se viu num abismo que não era apenas precipício, mas que se apresentava como imensidão possível de práticas docentes criativamente articuladas por ela.
Dessa forma, quase beirando o romantismo, mas – ainda assim – deixando-me dominar pela trágica afirmação da vida e da realidade como elas são, "apesar de"... Reflito:

Se a educação está à beira do abismo.
O que precisamos perceber é que a beira do abismo não é o lugar
onde você só tem a opção de despencar.
A beira do abismo é o lugar em que você pode olhar para as profundezas de si
e a imensidão do mundo para, então, se preparar para alçar o voo que
Fernão Capelo Gaivota tanto buscou.



* Este blog existe ara dialogarmos sobre Educação, Arte e Cultura.
Fiquem à vontade para mandarem comentários e emails!!!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

DIVERSIDADE CULTURAL OU DESIGUALDADE SOCIAL?

Navegando pelo facebook, encontrei esse link mostrando a reação de crianças ao verem um homem branco pela primeira vez:

Não resisti a escrever sobre isso...

No link, você verá escrito sobre o vídeo abaixo: "Muitas vezes ficamos tão isolados em nossas bolhas, que esquecemos que no mundo ainda há muita desigualdade para ser superada".



Não quero ser interpretada como alguém que distorce as ideias do autor, então, já advirto que escrevo expondo minhas reflexões a partir do que eu li, do que eu vejo de comentários para esse tipo de texto e, principalmente, da expressão "desigualdade a ser superada". 
Quantas pessoas não viram esse vídeo e pensaram: "Coitadinhas dessas crianças... desconhecem o mundo além da sua tribo".

Sinceramente, prefiro ficar com a riqueza do olhar dessas crianças descobrindo a DIVERSIDADE, olhando pra esse cara quase cor-de-rosa e vendo ali uma PESSOA a ser descoberta.

Ainda me lembro do meu avô italiano contando sobre o dia em que viu um negro pela primeira vez assim que chegou ao Brasil... Não lembro mais como ele disse, mas a imagem em minha memória é rica e tão repleta de curiosidade quanto a reação dos meninos do vídeo:

"achei que estava sujo de "borralho" o bambino!!!" - vô Pierino Muglia, com seus 10 anos.

Vemos muitas (não generalizando) crianças negras sendo criadas e preparadas para um mundo em que serão vítimas de pré-conceitos e discriminações. Essas crianças constroem suas identidades já como oprimidas e vitimizadas, criando em si uma força de defesa e/ou de militância pré-disposta a derrotar os senhores brancos, ao invés de defenderem a ESPÉCIE HUMANA, as CULTURAS HUMANAS, as DIVERSIDADES HUMANAS.

Criar os filhos valorizando seus olhares sensíveis às diversidades humanas em detrimento das desigualdades, não é criá-los para uma visão romântica de mundo, mas para conseguirem olhar para o mundo e ver que não há só o feio, que não há só o sofrimento, que não há só vítimas e criminosos, oprimidos e opressores.

Iniciar os filhos levando-os para a “floresta” a fim de que eles conheçam o mundo e se sintam seguros nele, apesar de todos os perigos, é também ensiná-los que atacar nem sempre é a melhor defesa.

Levar as crianças para a “floresta” e deixá-las descobrir que, sim, é lindo que haja PESSOAS das mais diversas cores e credos e que o amor acontece entre pessoas (não somente entre homens e mulheres) vai prepará-las para olhar as desigualdades sem se colocarem como vítimas de outras culturas ou de um “sistema”, vai prepará-las para olhar as cores do mundo e ter a certeza de que as desigualdades não tem sentido em sua própria existência.
Aí, sim, a luta terá base e força para tentar mudar algo e as injustiças sociais sofridas pelas “minorias”, que nem sempre são minorias, não é, mesmo?

PENSO QUE SÓ DIMINUÍMOS AS DESIGUALDADES SOCIAIS ASSUMINDO UMA POSTURA DE VALORIZAÇÃO DA NOSSA DIVERSIDADE HUMANA/CULTURAL!!!

Apesar de serem lamentáveis as desigualdades, que consigamos parar de lamentá-las para focarmos em nossas humanidades e às suas inerentes diversidades!!!!